domingo, 28 de dezembro de 2008

Hope


Que me lembre, lá em casa houve apenas um cão e um gato e ambos duraram pouco. O gato arranhou os cortinados da sala, pelo que a minha mãe decidiu que não podia ficar. O cão ainda lá esteve menos tempo, porque a minha mãe tinha medo dele, logo não podia entrar em casa e a minha mãe nunca mais foi ao quintal. De peixinhos e passarinhos e outros animais de estimação, nem sombras. Em resumo, nunca fomos uma família muito dada aos animais.
Como não tenho essa propensão natural para os animaizinhos (e já agora também para as plantas), a decisão de termos um cão foi um tanto surpreendente. Começou por ser uma daquelas conversas de "quando tiver uma casa com quintal, arranjamos um cão" e um dia já era "que nome vamos dar ao nosso cãozinho?". Seria Óscar, mas o Óscar não sobreviveu e acabámos por ficar com um cadela. A Hope. Nome estranho para uma cadela? Talvez...
Há três dias que chegou e já provocou o caos nos hábitos cá de casa. Não nos deixa dormir porque passa as noites a ganir. Enrola-se nos nossos pés quando andamos na cozinha. Obriga-nos a estar sempre a lavar o chão do quintal porque faz cocó em qualquer lado. Enfim, um transtorno completo. Mas, por outro lado, é uma cachorrinha linda e meiguinha que se deita nos nossos pés a dormir. O Alex até já perdeu o medo e gosta de correr e brincar com ela. É uma delícia vê-lo com ela a dormir no colo.
Todos me dizem que tenho de a educar agora que é pequenina, e é o que estou a tentar fazer. Confesso que não é fácil, mas se conseguimos educar as crianças também devemos ser capazes de educar um cão, ou não? Aquilo que já aprendi (e que, provavelmente devia ser óbvio) é que os cães nos conquistam como as crianças, depois habituamo-nos a tê-los por perto e fazem-nos falta. E foi assim que a nossa família cresceu mais um pouco.

Benvinda a casa, Hope.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O baterista



No fundo do palco, o baterista olha atentamente para o maestro à espera do sinal para começar. Vestido de preto, cabeça rapada e piercing, o seu aspecto adequa-se mais a uma banda de heavy metal do que a uma banda filarmónica e, no entanto, faz sentido vê-lo ali. Sentada na plateia a vê-lo tocar, penso: "O Luís está um homem.".
O Luís era um rapazinho do 7ºano quando o conheci. Um rapazinho preguiçoso, que passava as aulas a desenhar em vez de fazer os trabalhos. Um rapazinho inseguro, que afastava os outros por medo de não ser aceite. Um rapazinho a tentar lidar com o crescimento, à procura de quem era e do que gostava. Um rapazinho a precisar de atenção.
O rapazinho cresceu. Descobriu o mundo. Descobriu aquilo que gosta de fazer. Descobriu o amor. Encontrou um espaço para si. Há um mundo de potencialidades dentro dele que tem vindo a explorar. Lentamente, um pouco a medo, porque nem sempre acredita no que pode fazer.
O rapazinho é agora um homem. É esse homem que olho com orgulho. O orgulho de quem o viu crescer e acreditou nele.

Boa sorte, Luís.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Now it´s really Christmas time

Há dois dias que não saio da cozinha. A família já chegou e a casa está cheia. As crianças correm pela casa. No aparador estão os doces e bolos. O bacalhau está a cozer, o lombo está temperado, o camarão cozido e o perú espera a sua vez. Tudo a postos para logo à noite. É isto o Natal: a família reunida, uma canseira e uma alegria misturadas. Logo à noite quando nos sentarmos à mesa serei uma mulher feliz.

Feliz Natal!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

sábado, 13 de dezembro de 2008

It's Christmas time



Cá em casa o Natal começou hoje. Este ano com um pouco de atraso, é certo, mas agora veio para ficar. Montámos e decorámos a árvore de Natal. Ouvimos música de natal. E pronto, o espírito natalício invadiu-me. Não sei bem o que é isto do espírito natalício, mas todos os anos o sinto. É uma alegria que começa na compra dos presentes, passa pelas tardes enfiada na cozinha a fazer bolos e a rir com a minha irmã e só termina à mesa do dia de Natal, quando toda a gente já comeu tanto que nem pode olhar para a comida. Dos presentes já gostei mais, mas em relação ao resto sinto uma alegria e uma emoção quase infantis. A casa cheia de gente, os miúdos a correr com as prendas, a família sentada à mesa, as receitas da nossa tradição familiar, as minhas meninas a baterem à porta, os telefonemas e as mensagens até daqueles para quem temos menos tempo do que gostaríamos. Adoro tudo. E emociono-me. Como me emocionei há pouco quando entrei na sala e vi a árvore com as luzinhas acesas.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Falta um dia

Já só falta um dia para o meu filho voltar para casa. Hoje falei com ele e disse-me que tem saudades minhas. Toda a minha alma se encheu de alegria. Ele tem saudades minhas, ele está bem e divertido mas quer voltar para casa, ele sente a minha falta. Tudo coisas óbvias, bem sei, mas que querem?, nunca o tinha deixado assim. Da próxima vez, vou portar-me melhor. Porque eu sei que é importante ele estar com os avós, ser "estragado com mimo", sentir saudades minhas. Porque eu sei que ele é meu, será sempre meu, mas não é exclusivamente meu (e cada vez menos), e isso não diminui o nosso amor. Porque além da minha e da do pai, houve outras vidas que ele mudou. E todos o amamos muito. E é disso que ele precisa.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Esquizofrenia maternal

O meu filho está em casa dos avós de Lisboa desde ontem. A ideia dele ficar lá uns dias até foi minha, porque tenho muito trabalho agora e dá-me jeito estar mais livre. Além disso, isto de ser mãe "solteira" é muito cansativo, pelo que umas fériazitas sabem sempre bem, certo? Errado. Depois de ter andado a gozar antecipadamente a liberdade de não ter horários certos, de poder comer o que me apetecesse (em vez da ditadura da sopa e da comida saudável), de poder trabalhar sem ser interrompida, de não ter de sair da escola a correr para o ir buscar, isto não me está a saber tão bem como pensava. Assim que me meti no carro, depois de o deixar com os avós, comecei logo a achar que me faltava qualquer coisa ("Já estamos a chegar?", "Ainda falta muito?", "Quando é que paramos para comer?"), mas o pior mesmo foi quando entrei em casa. Sem ele, a casa parece demasiado grande e vazia. Dou por mim a pôr a música baixinha para não o acordar ou a subir as escadas devagar como se ele estivesse a dormir no quarto. Pior, a entrar no quarto e olhar as coisas dele com uma saudade de quem não o vê há pelo menos vários meses. Por seu lado, o gaiato parece estar nas sete quintas, cheio de mimos e atenção dos avós e das tias. Ontem não quis falar comigo ao telefone e hoje fê-lo de muito pouca vontade, entretido que estava com os brinquedos novos e a plateia para as suas gracinhas. E eu aqui, sozinha e estupidamente triste por ele se estar a divertir, em vez de estar lavado em lágrimas pela minha ausência. É claro que acho óptimo que ele se sinta bem em casa dos avós e não queria de facto que ele estivesse infeliz lá, mas custava-lhe ter muitas saudades minhas? Creio que os psicólogos chamam a isto que sinto "empty nest syndrome", cá a mim parece-me que é a evidência (se evidências eram precisas) de como estas criaturas pequeninas a que chamamos filhos entram na nossa vida e ocupam todo o espaço livre, e até algum que não estava livre, e depois não conseguimos viver sem elas. Mas uma mulher tem que se aguentar e, por isso, não me resta outra alternativa senão resitir à tentação de o ir buscar já amanhã e tentar aproveitar o melhor possível estes dias sem filhote.

domingo, 30 de novembro de 2008

Reencontro

Entrou no café e procurou ansiosamente um rosto familiar. No fundo da sala, na mesa do canto uma jovem mulher lia um livro. Mesmo sem lhe ver o rosto, soube que era ela. A sua menina transformada numa mulher. Hesitou um momento e aproveitou o facto de estar distraída para a observar. Conservava o porte distinto e sereno, o ar contido e determinado. E ali, numa cena de filme, todo o ruído do café desapareceu e o tempo pareceu parar, no instante em que ela levantou os olhos do livro e os seus olhares se cruzaram. Avançou lentamente em direcção à mesa, cumprimentaram-se, o empregado aproximou-se, pediram chá, e ficaram em silêncio. Um silêncio cheio de emoções e palavras que se atropelavam sem sair. Foi assim, em silêncio, que souberam que, apesar de tudo, elas ainda eram as mesmas e reataram uma longa conversa, interrompida durante anos, com a naturalidade de quem se vira na véspera. Sem perguntas nem explicações, apenas com o entusiasmo de quem gosta uma da outra. Quando finalmente olharam em redor, já não restava mais ninguém no café além dos empregados desejosos de se irem embora. Como sempre, o tempo fora demasiado curto. Riram-se do seu próprio alheamento e saíram para o frio cortante de Dezembro. Cá fora, despediram-se relutantemente, mas sem promessas, e cada uma tomou o seu caminho, certa de que, por muito diferentes que fossem os seus caminhos, sempre se haveriam de cruzar. Porque é isso que acontece aos amigos.

sábado, 29 de novembro de 2008

O pátio do liceu

Há anos que não entrava no pátio do Liceu. Na verdade, não sei se terei lá entrado muitas vezes desde que deixei de estudar no Liceu há quase vinte anos. Muita coisa mudou, sobretudo eu, claro, mas também o próprio pátio. Nessa altura, ainda não se tinham lembrado de fechar o pátio e instalar ali o bar, pelo que durante o Inverno era desabrigado e frio, sem nada que o separasse do jardim ou que impedisse a chuva de entrar pela clarabóia por cima do lago (vazio) que se encontrava no centro. Também não existiam todas aquelas tribos diferentes de alunos que agora o povoam, nesse tempo de um lado tínhamos os betos (rapazes e raparigas de ar arrumadinho, pullovers verdes ou vermelhos de decote em bico, botas alentejanas mandadas fazer por medida, mini-saias xadrez e mocassins), do outro os vanguardistas (pessoal que vestia de preto e que, para os padrões da época, tinha um ar mais alternativo e contestário). Eu, a quem faltavam alguns requisitos para ser uma verdadeira beta, especialmente o dinheiro para fazer um certo tipo de vida, passei todos os anos de secundário a tentar parecer-me com as minhas amigas betas e a olhar com um certo espanto e indiferença a tribo dos vanguardistas, que, agora que penso nisso, devia ser mais heterogénea e interessante do que na altura terei tido consciência. Foram precisos muitos anos para me livrar de certo tipo de preconceitos e descobrir que era mais do que uma menina betinha e bem-comportada. Talvez por isso, quando agora entro no liceu, gosto de observar os adolescentes e as suas tribos. São tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão parecidos com o que nós fomos: procurando encontrar o seu lugar no mundo, usando a aparência para se afirmarem, integrarem ou revoltarem contra o mundo, vivendo as mesmas dúvidas existenciais, enfim, crescendo.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Questionário

Uma vez que fui desafiada a responder a este questionário, aqui está. Todas as respostas são títulos de músicas de Sheryl Crow.

1) És homem ou mulher? "Maybe angels"
2) Descreve-te: "Strong Enough"
3) O que as pessoas acham de ti? "The difficult kind"
4) Como descreves o teu último relacionamento? "No one said it would be easy"
5) Descreve o estado actual da tua relação: "We do what we can"
6) Onde querias estar agora? "Home"
7) O que pensas a respeito do amor? "Love is a good thing"
8) Como é a tua vida? "Everyday is a winding road"
9) O que pedirias se pudesses ter só um desejo? "Always on your side"
10) Escreve uma frase sábia: "I shall believe"

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A eloquência do silêncio

Toda a gente parece ter uma opinião sobre o que eu devia fazer. Toda a gente menos o meu pai. A minha mãe fala frequentemente sobre o assunto, pergunta se já tomámos uma decisão, faz até alguma chantagem psicológica. Ao meu pai ainda não ouvi uma palavra. A minha mãe pressiona, choraminga, diz claramente que não quer que nos vamos embora. O meu pai aparenta desinteresse e abandona a sala. E, no entanto, sei bem que esta questão não lhe é indiferente. Sei que age assim porque não quer interferir na minha decisão, e acha que eu sei que estará do meu lado qualquer que seja a decisão que venha a tomar (como, aliás, sempre fez). Ontem, quando o vi brincando com o neto no computador, tive a certeza que será ele a sofrer mais se partirmos. Por minha causa, mas sobretudo pelo meu filho, o neto que ele recebeu de coração aberto e para quem tem uma enorme paciência e tolerância. Ver aquela cumplicidade entre eles exerceu sobre mim mais pressão do que todas as palavras que o meu pai pudesse ter dito para me fazer ficar. E o meu pai nunca diria essas palavras. O seu silêncio é simultaneamente uma forma de respeito pela minha decisão e uma evidência de fragilidade face ao que eu possa decidir.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Creio que todas as decisões importantes que tomei na vida foram tomadas no duche. Por isso, tenho passado longos minutos sob a água corrente. Até agora, tudo o que consegui foi aumentar a conta da água e prejudicar o ambiente. Mas não desisto. Um destes dias emergirei do nevoeiro do banho com a certeza do caminho a seguir.

domingo, 16 de novembro de 2008

Me Kala, You Tarzan



Ontem, eu e o meu filho estivemos a ver o Tarzan. Não me lembro de alguma vez ter visto o Tarzan antes, e definitivamente nunca nesta versão da Disney, por isso até não foi um esforço sentar-me com ele para ver o filme (sim, porque às vezes há desenhos animados que só mesmo por amor aos filhos é que conseguimos suportar). A verdade é que me comovi desde o início com a forma como a gorila Kala encontra o pequeno Tarzan e sente o apelo do instinto maternal, e depois me deixei envolver pelo filme. Não é fácil resistir à magia destas histórias para crianças, principalmente pela universalidade dos sentimentos e dos valores em jogo, mas neste caso era mais do que isso. A Kala e o Tarzan somos nós, eu e o meu filho, e ali, sentados no sofá, lado a lado, ambos o sabíamos. Por isso não foi uma surpresa quando, na cena em que Kala leva Tarzan à casa onde o encontrou, o meu filho se virou para mim e me disse: "Tu és a Kala, mamã". Não pude conter as lágrimas, incerta entre a alegria e a tristeza dele compreender o que somos. No final do filme, o meu filho afirmou chorando que estes filmes não são para meninos tão pequeninos porque são muito tristes. "Nem para adultos", pensei eu, abraçando-o para o consolar e esperando ser consolada. E foi assim que aprendemos um pouco mais sobre nós.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Ainda não sei

Anos a querer ser professora. Anos a não desistir do entusiasmo de ensinar, do sonho de ser diferente e fazer a diferença. Anos a sorrir quando me diziam que ia perder essa força com o tempo e a responder “talvez”, e a dizer para mim própria que isso nunca iria acontecer. Anos a entrar na escola e sentir-me feliz por “estar em casa”. Anos de arrepiar os cabelos, de pensar que não vou aguentar e depois a aguentar porque, apesar de tudo, gosto daquilo. Anos, anos, anos de escola... e agora vou-me embora?

Pergunta: Se me for embora ainda serei professora?
Resposta: Não sei.

Pergunta: Se não for professora, ainda serei eu?
Resposta: Não sei.

Pergunta: Partir é uma forma de me salvar ou apenas de fugir?
Resposta: Não sei.

Pergunta: Que sabes?
Resposta: Ainda não sei.

Um abraço de 'gosto muito de ti'

"A mãe gosta do pai.
O pai gosta da mãe.
O pai e a mãe gostam de mim.
E eu gosto do pai e da mãe.
E agora, mãe, vou dar-te um abraço de 'gosto muito de ti'."


E eu rio-me, enquanto as lágrimas me caem pelo rosto. A vida devia ser assim tão simples. E, por um breve momento, é.

domingo, 9 de novembro de 2008

"It's not true that life is one damn thing after another; it is one damn thing over and over."

Edna St. Vincent Millay

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Heart of Chambers



Beach House, "Heart of Chambers"

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Desabafo

"Se arranjasse outra coisa para fazer, ia-me embora."
"Quem me dera não estar aqui!"
"Estou tão cansada! Sinto-me como se as aulas já tivessem começado há seis meses (e afinal ainda só há dois)."
"Se me saísse o Euromilhões, nunca mais aqui punha os pés."
"Não sei se aguento isto até ao fim do ano."
"Objectivos?! O meu objectivo é manter a sanidade mental no meio de tantos papéis para preencher."
... etc, etc...

É possível que nem todos, confrontados com a hipótese de abandonarem o ensino, fossem de facto embora. No entanto, neste momento seriam mais do que antes. Isto faz pensar. Os professores não são máquinas e ressentem-se da pressão a que estão a ser sujeitos. Tenho de confessar que a estratégia é bem pensada: quebrar psicologicamente os professores e pô-los uns contra os outros, ou seja, dividir para reinar. Maquiavélico, mas potencialmente eficaz. Assim somos mais fáceis de manipular. Independentemente das convicções políticas, das opiniões sobre a qualidade do ensino e sobre a forma de o melhorar, uma coisa é certa: se destruirmos (literal e metaforicamente) os professores, nada poderá ser feito no ensino que o torne realmente melhor.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Se a nossa vida fosse um filme...

(de preferência uma comédia romântica) talvez pudéssemos contar com um desfecho feliz para as nossas histórias. Contudo, a nossa vida parece-se mais com aquelas "soap operas" americanas (tipo "Dallas", lembram-se?), em que a história pode continuar indefinidamente e, quando se pensa que tudo está mais ou menos resolvido, acontece sempre alguma coisa que lança a confusão e relança a intriga. E assim, não há "happy ending" nem "they lived happily ever after" que resistam... tudo é provisório. Como se vivêssemos numa sucessão de filmes, e este ainda não terminou, já está a começar o próximo.
Na maratona cinematográfica que é a nossa vida, ganham os mais resistentes.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Valsinha

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a a só num canto, para seu grande espanto convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E lá dançaram tanta dança que a vizinhana toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que todo mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz

Vinicius de Moraes

E um poema lindo destes só pode mesmo melhorar na voz de Chico Buarque:
http://br.youtube.com/watch?v=uSz17T7ue6Q

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Palavras



Andamos a desperdiçar as palavras. A gastá-las com pessoas que não as entendem. A usá-las para dizer coisas sem importância. A desvalorizá-las com a forma como as desbaratamos. Sim, porque as palavras são preciosas. Se bem usadas, ajudam a dar sentido ao nosso mundo, a arrumar a forma como olhamos o mundo e como o mundo nos vê. Mas, quando mal usadas, as palavras são uma fonte equívocos e distorções.
Talvez agora seja tempo de nos calarmos um pouco. De voltarmos à leitura e à escrita em busca da essência das coisas. Em busca da essência das palavras.

Ergo à minha volta um muro de palavras belas e delicadas e escondo-me atrás dele para recuperar o fôlego e enfrentar o absurdo do mundo lá fora.

domingo, 19 de outubro de 2008

Older but wiser (hopefully)

Tenho sorte. Às vezes, esqueço-me disso, mas sei que tenho sorte. A minha vida (apesar das dúvidas, das angústias, de todo o sofrimento) aproxima-se muito do que sonhei para mim. E, sempre que reúno na casa que construímos para a nossa família aqueles de quem gosto, tenho a certeza que estes 36 anos fazem (algum) sentido.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Filho meu, nunca!

A propósito de um comentário de um dos meus alunos sobre a vergonha de ter um filho com uma deficiência mental, perguntei numa turma só de rapazes: "O que seria pior para vocês: ter um filho com uma deficiência mental ou um filho homossexual?". Obviamente a pergunta não faz sentido mas era uma provocação declarada, uma vez que conheço os seus preconceitos. E a reacção foi absolutamente instintiva, todos afirmaram que preferiam um filho com uma deficiência mental. Sim, porque quando se lhes fala em homossexualidade, eles, que são todos muito "machos" e passam o tempo a falar de "gajas", ficam logo alvoroçados, como se estivessem eles a ser insultados. "Filho meu, nunca!Punha-o fora de casa!". E não há argumentação que os demova.
Contei esta história, em jeito de anedota, aos outros professores e toda a gente se riu. Porque o preconceito deles é tão arreigado e a forma como se exprimem é tão absurda que não podemos deixar de nos rir. Mas a verdade é que devíamos era estar tristes. Eles, rapazes de 15/16 anos, são um espelho do Portugal profundo onde vivem. Enquanto as elites discutem o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, devem existir por este país fora muitos rapazes e raparigas, homens e mulheres, com dificuldade em assumir a sua sexualidade por viverem em meios onde o pensamento dominante continua a ser o da incompreensão, da repressão e da marginalização.
Quanto aos meus alunos, só me resta esperar que, se um dia forem confrontados com o facto de terem um/a filho/a homossexual, o amor deles pelos filhos fale mais alto do que o preconceito.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Ensinar: um desafio



Imaginem o que é entrar todos os dias em salas de aulas cheias de adolescentes com esta postura. É que é fácil ensinar quem quer aprender, o desafio está em ensinar quem se recusa a ser ensinado. Bem certo que muitas vezes é só pose, mas ainda assim...
Não esquecer: por trás de cada adolescente enfastiado com a escola há um jovem que pode ser cativado. Isso é um trabalho que requer tempo, disponibilidade e persistência.
Há desafios que vale a pena aceitar.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Mãe solteira

Levanto-me, tomo banho, visto-me, faço a minha cama, acordo o miúdo, visto-o, faço a cama dele, dou-lhe o pequeno-almoço, preparo a merenda, agarro a mochila dele, a minha pasta, a mala do computador, saímos de casa, deixo-o na escola, vou para a minha escola, dou aulas todo o dia, tenho reunião, meto-me no carro, vou buscar o miúdo a casa dos avós (depois de um dia de aulas, duas horas de prolongamento e, quem sabe, mais umas horas com os avós), chegamos a casa, brincamos um pouco, preparo o jantar, dou banho ao miúdo, jantamos, jogamos um jogo, contamos uma história, cantamos uma canção, o miúdo dorme, sento-me ao computador, preparo as aulas do dia seguinte, chego à cama morta, adormeço. E no outro dia começa tudo de novo...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Madrinhas

Toda a vida lhe chamei madrinha e não percebia por que é que as outras pessoas achavam isso estranho. Não sou baptizada e os meus pais nem sequer casaram pela igreja, mas tanto eu como a minha irmã tivemos madrinhas. Eram amigas da minha mãe a quem víamos pouco, mas que nunca se esqueciam de nos mandar prendas no Natal. Quando casei (pelo civil), convidei a minha madrinha para ser novamente minha madrinha, e lá foi ela assinar no lugar reservado às testemunhas, que é onde assinam as madrinhas de quem não casa pela igreja. E, assim, renovámos a nossa relação.
Por isso, pareceu-me natural quando uma das minhas amigas me convidou para ser madrinha da sua primeira filha, embora não pensasse baptizar a criança. Foi assim que me tornei madrinha da Mariana, a primeira gravidez que acompanhei de perto, a primeira bebé que peguei recém-nascida. Por isso também, pareceu-me natural escolher uma madrinha para o meu filho, ainda que não esteja a pensar baptizá-lo.
Gostava de ter um papel importante na vida da minha afilhada. Gostava que a madrinha do meu filho nunca deixasse de fazer parte da vida dele. Convidar alguém para madrinha é uma forma de distinção, ser madrinha é um motivo de orgulho. E isso são coisas que vale a pena preservar.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

O que aprendemos:

Ela: Consigo viver sozinha e fazer (quase) tudo, mas não gosto!

Ele: Afinal não gosto tanto de estar sozinho como pensava.

Ele e ela: Juntos somos melhores do que separados.

domingo, 28 de setembro de 2008

Tudo o que cabe num dia



Está bem, foi só um dia, mas que importa isso? Nem tudo se mede em dias, horas, minutos... O tempo também é o que fazemos dele e dentro de um dia cabem tantas emoções... Por um dia, estivemos juntos outra vez. Por um dia, fomos uma família. Por um dia, pude abraçá-lo e beijá-lo e adormecer no seu ombro. Por um dia, conversámos olhando nos olhos um do outro, sem a tecnologia de permeio. Por um dia, ele e o filhote jogaram à bola (no quintal e na playstation). Por um dia, fomos às compras como costumamos fazer ao sábado, almoçámos no restaurante habitual, dividimos as tarefas domésticas. Por um dia, reatámos a rotina. (Quem havia de dizer que a rotina era uma coisa assim tão boa!)E no meio de tanta coisa, quase nos esquecemos que fazíamos onze anos de casados. É que este ano, ao contrário de todos os que o antecederam, a festa era podermos fazer o que sempre fizemos. E foi tão bom!
Por um dia, fui tão feliz como em tantos dias dos últimos onze anos. Obrigada, marido.

(foto: Pedro Dias)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

O contra-relógio

Ainda estamos em Setembro e o ar estafado dos professores faz-nos pensar que já estamos no final do 2ºperíodo. Há um desânimo e um cansaço que se estampam nos rostos dos professores e se sentem nos seus suspiros. Ninguém quer ali estar. E isso é estranho. É que tenho a certeza que na sala de professores da minha escola há muitos professores que gostam de ensinar.
Começámos as aulas ainda não há quinze dias e, de repente, parece que estamos atrasados no trabalho e era tudo para ontem. Testes diagnósticos, planificações, grelhas de observação de aulas, aulas assistidas, reuniões (muitas reuniões). A sensação que tenho é que vivemos em permanente contra-relógio, como se, se fizéssemos tudo o mais cedo possível, o ano lectivo terminasse mais rápido.
Vergados sob o peso da avaliação do pessoal docente, os professores não têm tempo para falarem uns com os outros, todos os minutos são preciosos para preencher mais uma grelha ou outro papel qualquer. Nunca como agora se viveu a paranóia do registo de tudo o que é feito na escola. Falámos com o colega que deu a mesma disciplina aos nossos alunos no anterior? Registe-se em acta. Discutimos com o colega que lecciona a mesma disciplina a melhor forma de leccionar um conteúdo? Registe-se em acta. Partilhámos umas fichas de trabalho? Registe-se em acta. Não se registou, então não foi feito. Consequência: não vamos poder provar que cumprimos um parâmetro qualquer da nossa avaliação.
Tudo isto me faz muita confusão, mas sobretudo preocupa-me. A este ritmo, quando chegarmos ao Natal estamos todos exaustos, e depois? Como vai ser? Ainda por cima, não sei se, no meio de tanto papel, vai sobrar tempo e paciência para conhecer e aturar os nossos alunos e pensar em primeiro lugar no que é melhor para eles, em vez de pensar nos sumários bonitinhos, no cumprimento dos programas, nas inovações pedagógicas e no sucesso que nos há-de dar uma boa classificação como professores.
Se não nos acalmamos um pouco, no final do ano estamos todos de baixa. E depois, senhora ministra?

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Humanidades?! Isso serve para quê?

Há vinte anos atrás quando fui para o 10º ano e escolhi humanidades, disseram à minha mãe: "Tão boa aluna e vai para humanidades... é uma pena!". Uma pena porquê? Porque humanidades é a área de quem não sabe fazer nada? Porque tem poucas saídas? Porque não há empregos? Nessa altura (como agora, vejam lá o pouco que as coisas mudam) eram esses os argumentos de quem nos queria dissuadir de ir para humanidades. Pior ainda. Não fui para humanidades para depois seguir direito (que sempre é uma profissão respeitável). O que eu queria mesmo era ir para letras e, desgraça das desgraças, queria ser professora.
Ao fim destes anos todos, continuo convencida que fiz a opção correcta. E agradeço aos meus pais o facto de me terem deixado escolher sem pressões. Mas, olhando os meus alunos, preocupa-me que se continuem a usar os mesmos argumentos com eles. Sobretudo se forem os professores a usá-los. Com que direito podemos nós (pessoas adultas com algum poder de influência sobre eles) dizer-lhes que é um desperdício ir para humanidades. Pessoalmente, parece-me que é um desperdício ir para uma área de que não se gosta só porque tem "mais saídas", em vez de aprender coisas que nos dão prazer e investir nisso. É que no futuro não vai existir isso do emprego para a vida inteira e, portanto, a nossa formação inicial será só o ponto de partida para a vida profissional. E se um curso superior já não dá garantias de emprego, mais vale fazer um que pelo menos nos dê gosto.
Nem quero pensar na sociedade que teremos se todos os alunos com vocação para as humanidades (sim, porque há muitos que só lá estão para fugir à matemática), optarem por outras áreas. A nossa sociedade precisa de médicos, economistas e engenheiros, mas também precisa de historiadores, críticos literários, linguistas...
A todos os alunos de humanidades que seguiram a sua vocação, obrigada por não desistirem dos vossos sonhos. E boa sorte.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Love in Brussels



(fotografia: Pedro Dias)

domingo, 14 de setembro de 2008

Hugs



Gosto de abraços.
Protegem-nos.
Fazem-nos sentir menos sós.
Acompanhados.
Compreendidos.
Trocava todas as palavras por um abraço.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Eu meto gasolina, tu lavas a roupa

Desde ontem que ando a falar com electricistas e serralheiros para tentar resolver um problema na janela da sala. Até agora ainda não consegui que me viessem arranjar a janela mas estou muito contente comigo própria. É que eu detesto fazer este tipo de telefonemas e, por isso, era sempre o marido quem os fazia. Agora o marido não está e não tive mesmo outro remédio. Acho que nem me tenho estado a sair mal, o facto de não ter ainda o problema resolvido não é culpa da minha inabilidade ao telefone. Como toda a gente que já teve problemas em casa sabe, é difícil conseguir que estes trabalhadores especializados nos façam o que precisamos.
Além de fazer telefonemas chatos, também tenho pago as contas na internet, metido gasolina, enfiado o carro na garagem, trancado a casa à noite e tratado sozinha do miúdo. Tudo coisas que não costumava fazer. Em compensação, o marido tem escolhido casa sozinho, cozinhado, lavado a roupa e arrumado a casa. Coisas que ele também não costumava fazer. Estávamos mal habituados, era o que era, mas confesso que gostava da nossa divisão de tarefas. Dizem-me que isto nos fará bem, espero que nos faça "crescer" mais um pouco. Mas não estou convencida. Quando estivermos juntos, o que quero mesmo é que volte tudo a ser como era.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

We are apart... but not separated

Às vezes surpreendemo-nos a nós mesmos. Nos momentos decisivos vamos buscar forças que não sabíamos que tínhamos e aguentamo-nos. É verdade que não passaram muitos dias desde que ele se foi embora, mas ainda assim, acho que nos estamos a portar bem. Usamos a tecnologia para encurtar a distância que nos separa e ocupamos os dias com os afazeres profissionais e domésticos. Há dias melhores e dias piores, e será sempre assim, mas aguentamo-nos. Talvez porque sentimos que se cada um de nós se aguentar o outro ficará bem. Estamos juntos nisto (apesar dos quilómetros entre nós), como temos estado em tudo desde há quase 16 anos. We are apart, but not separated.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

A separação...



Melhor do que muitas palavras.

Morre lentamente

Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço!
Muito maior que o simples facto de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um
Estágio esplêndido de felicidade.

Pablo Neruda, "Morre lentamente"

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

All we need is love



Things are always changing,
And maybe nothing is forever,
But I believe in love
In its strenght to keep two people together.


Lembras-te? Já faz quase um ano que escreveste estes versos. Também eu acredito na força do amor e toda a minha vida tem sido construída com base nessa convicção. Tu sabes. Por isso, tenho dificuldade em dizer-te que há amores certos e errados, amores pelos quais vale a pena lutar e outros dos quais devemos desistir. Só o nosso coração devia poder dizer uma coisa dessas. E, no entanto, não é isso que acontece. Na verdade, nem sempre isso é uma coisa má, é que o coração engana-se, ilude-se e atraiçoa-nos. Há amores bons que se transformam em fontes de sofrimento e amores que secam tudo em seu redor. O amor, como tudo na nossa vida, depende de toda uma série de circunstâncias e muitas vezes não é a força do amor que determina a sua sobrevivência. Só o tempo pode dizer da capacidade do amor para manter as pessoas juntas. Só o tempo pode dizer da qualidade do amor.

(imagem da capa do álbum "The Hungry Saw" dos Tindersticks)

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Ser adulta

Não gostaria de voltar a ser adolescente, mas às vezes parece-me que isto de ser adulto é demasiado difícil. Se fosse adolescente agora poderia enfiar-me em casa a ouvir músicas tristes e a chorar até voltares, e ninguém acharia isso estranho. Como sou adulta, espera-se de mim um comportamento "adulto", isto é, continuar com a vida normal, pensar no marido que estará sozinho e no filho que precisará de mais atenção, e aguentar-me. Porque é isto que os adultos fazem. Pelo menos, é isto que os adultos fazem na frente dos outros. As tristezas dos adultos são vividas em silêncio para não incomodar os outros. As minhas lágrimas embaraçam as outras pessoas, deixam-nas desconfortáveis e, por conseguinte, deixam-me desconfortável. Sou adulta e racional e comporto-me como tal. Que hei-de responder quando as pessoas me dizem "custa no início mas depois passa"? Obviamente concordo e calo-me. É que sei que o tempo ajuda a tornar mais suportável a separação, mas que interessa isso neste momento? Que interessa saber que as coisas têm de ser assim? Que interessa acreditar que tudo vai correr bem? Dói muito na mesma. E esta dor nada tem de racional. Mas isso é uma coisa para ficar entre as paredes do meu quarto, porque lá fora é preciso manter as aparências e agir com a maturidade que se espera de uma mulher adulta e sensata. Que é o que sou.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

"Gostar é a melhor forma de ter"

O primeiro instinto do amor é prender (literal e metaforicamente) aqueles de quem gostamos. Guardá-los só para nós, fechá-los naquela bolha que nos isola do mundo, prolongar indefinidamente aquele sentimento de exclusividade e felicidade que nos liga e não deixar mais ninguém aproximar-se. Se pudéssemos, era isto que faríamos. Não o fazemos porque sabemos que, se o fizéssemos, o preço seria (a mais ou menos longo prazo) o próprio amor. Os laços suaves do amor tornar-se-iam grilhetas insuportáveis e em vez da felicidade da escolha de estarmos juntos teríamos o peso da obrigação.
Aprendemos com o tempo que "gostar é a melhor forma de ter" e, por isso, aqueles de quem gostamos são "nossos" independentemente do lugar onde estiverem e das pessoas que fizerem parte das suas vidas. Aprendemos com o tempo que não há forma de "prender" as pessoas para sempre, a não ser deixá-las livres para partirem e voltarem quando quiserem. Aprendemos com o tempo que a verdadeira vocação do amor é libertar.

domingo, 17 de agosto de 2008

O que é uma família?

"Um espaço onde ficam contentes por te ver quando chegas e tristes quando partes."

Não sei quem disse isto, mas gosto desta definição de família. Acho que combina com o que sentimos nesta família.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

História de amor



Ele entrou nas nossas vidas e transformou-as para sempre. Às vezes olho para ele e penso em como terá sido a sua vida antes de nós. Mas em geral não é nisso que penso enquanto o observo a brincar. Penso como poderíamos viver sem ele. Penso no imenso orgulho que sinto por ele ser como é. Nada se compara ao seu sorriso. Um sorriso que ilumina toda uma sala e nos deixa desarmados. Um sorriso que apaga o pânico inicial de não o conseguirmos amar o suficiente. Como pudemos duvidar? Agora só podemos recear desiludi-lo. Não há como o proteger para sempre e sabemos que haverá tempos difíceis, contudo isso não parece importante neste momento. Agora o que conta são os beijos, os abraços, as cócegas. E a voz dele a perguntar: "Serás sempre a minha mãe?". Sim, serei sempre a tua mãe. E esta será sempre a tua família. E tu serás sempre amado aqui. E isso é tudo o que importa. Obrigada por nos fazeres tão felizes, filho.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Elogio do silêncio


Gosto do silêncio. Não gostava, mas, com os anos, tenho vindo a descobrir que o silêncio me faz falta. Para recarregar as baterias, para me ouvir a mim própria, para deixar "lá fora" os ruídos que enchem as nossas vidas. É fácil perdermo-nos na confusão de sons que nos rodeiam e às vezes nos impedem de pensar, de sentir, de olhar para o mundo de outra maneira.
O silêncio não é uniforme, pelo contrário, está cheio de subtis nuances. É preciso aprender a senti-lo. Há silêncios que nos oprimem e silêncios que nos libertam, há silêncios que nos isolam e silêncios que nos fazem companhia. E depois há o silêncio partilhado. O silêncio em que as palavras pura e simplesmente não fazem falta. O silêncio em que as emoções são mais eloquentes que quaisquer palavras que pudéssemos dizer. O silêncio cheio de uma cumplicidade feita de amor e compreensão. O silêncio que só pode existir entre pessoas que se conhecem, se amam e se respeitam.

domingo, 10 de agosto de 2008

Ó tempo volta para trás

"Everyone lives in his own castle," said Maude, "but that's no reason not to lower the drawbridge and go out on visits (...) Still, in another sense, you can always jump the wall and sleep out under the stars.”
“Maybe” Harold said. “But that takes courage. Aren’t you afraid?”
“Of what? The known I know; and the unknown I’d like to find out. Besides, I’ve got friends.” (Collin Higgins)

Um destes dias, andava eu a arrumar papéis e encontrei a minha pasta de final de curso. Há anos que não lhe mexia, mas encontrá-la despertou uma vaga de saudade. Sentei-me a ler as fitas escritas por pessoas que não vejo há mais de dez anos e a pensar no muito que a minha vida mudou nestes anos. Gostava de rever aquela gente, não para comparar os (in)sucessos das nossas vidas actuais, mas para recordarmos juntos os anos em que éramos jovens e o tempo tinha outro valor.
E isto traz-nos à citação acima transcrita. Foi escrita pela minha melhor amiga daqueles anos de faculdade. Ainda somos amigas, mas é diferente. Nós mudámos e, é sabido, com o casamento e as crianças, as amizades mudam também. Tenho saudades daquilo que éramos naquele tempo, dos risos e lágrimas partilhados, das aventuras e dos segredos. Olho para nós agora e sei que o tempo para descobrir o desconhecido começa a escassear. Estamos a ficar velhas, Maria.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O captain, my captain (ou como não ser uma técnica do ensino)



Este é um dos filmes da minha vida. Marcou-me quando o vi pela primeira vez e continua a emocionar-me. Quando chego à cena final, estou lavada em lágrimas. Algumas destas lágrimas são por mim, pelos meus sonhos de mudar o mundo, pela minha esperança de fazer a diferença, pela minha crença na missão dos professores. Ainda não desisti totalmente do meu idealismo, da minha vontade de ensinar os meus alunos a olhar o mundo de outra perspectiva e, no entanto, sinto que é cada dia mais difícil resistir à conformidade. Pergunto-me como vou ter tempo para conhecer os meus alunos, vê-los e ouvi-los, no meio de tanto papel para preencher e de tantas estatísticas. Não quero ser apenas uma técnica do ensino, ainda acredito na importância da paixão para dar sentido ao que fazemos, ainda não estou preparada para desistir totalmente. Por mim, por eles, não posso desistir. Como poderei falar-lhes da força dos nossos sonhos se tiver desistido dos meus?

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

À espera


Estou sentada no degrau de tua casa. À espera. Não sei há quanto tempo aqui estou. Um dia vais abrir a porta. Tu prometeste, por isso eu sei que vais. Entretanto fico aqui sentada. À espera. Lá dentro o teu mundo. Aqui fora, eu. Imaginando como será lá dentro. Fechaste a porta devagarinho. Pediste desculpa. Não faz mal. Vou continuar aqui sentada. À espera. Por vezes, abres um pouco a porta. E posso ver como é lá dentro. Só um pouquinho. Depois, tudo o que posso fazer é continuar aqui sentada. À espera. Um dia tu vais abrir a porta. E deixar-me entrar no teu mundo. Se isso nunca acontecer, terei sempre o tempo que passei sentada no degrau de tua casa. À espera.

quarta-feira, 30 de julho de 2008



You'll always be my man. Promise me I'll always be your woman.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

God bless the internet!

A minha irmã escreveu no blogue dela as coisas mais bonitas que alguma vez disse sobre mim (e que provavelmente nunca me diria pessoalmente), sei quão triste está a minha melhor amiga porque leio o seu blogue, escrevo no meu blogue para as pessoas de quem gosto. Por que escrevemos estas coisas em blogues? Para quem as escrevemos? O que será que isto quer dizer sobre as relações entre as pessoas? Entre o exercício de escrita e a esperança de sermos lidos e compreendidos, o mundo dos blogues é um jogo de véus em que cada um encena a sua personagem, com maior ou menor sinceridade. "Aquilo que escrevo escreve também sobre mim" (Botho Strauss), mas será que aquilo que escrevemos aqui vale no mundo real? God bless the internet!

É saudade, sim!

Para todos os que partiram (e de quem sinto a falta):

Noutros Lugares

Não é que ser possível ser feliz acabe,
quando se aprende a sê-lo com bem pouco.
Ou que não mais saibamos repetir o gesto
que mais prazer nos dá, ou que daria
a outrem um prazer irresistível. Não.

O tempo nos afina e nos apura:
faríamos o gesto com infinda ciência.
Não é que passem as pessoas, quando
o nosso pouco é feito da passagem delas.
Nem é também que ao jovem seja dado
o que a mais velhos se recusa. Não.

É que os lugares acabam. Ou ainda antes
de serem destruídos, as pessoas somem,
e não mais voltam onde parecia
que elas ou outras voltariam sempre
por toda a eternidade. Mas não voltam,
desviadas por razões ou por razão nenhuma.

É que as maneiras, modos, circunstâncias
mudam. Desertas ficam praias que brilhavam
não de água ou sol mas solta juventude.
As ruas rasgam casas onde leitos
já frios e lavados não rangiam mais.
E portas encostadas só se abrem sobre
a treva que nenhuma sombra aquece.

O modo como tínhamos ou víamos,
em que com tempo o gesto sempre o mesmo
faríamos com ciência refinada e sábia
(o mesmo gesto que seria útil,
se o modo e a circunstância persistissem),
tornou-se sem sentido e sem lugar.

Os outros passam, tocam-se, separam-se,
exactamente como dantes. Mas
aonde e como? Aonde e como? Quando?
Em que praias, que ruas, casas, e quais leitos,
a que horas do dia ou da noite, não sei.
Apenas sei que as circunstâncias mudam
e que os lugares acabam. E que a gente
não volta ou não repete, e sem razão, o que
só por acaso era a razão dos outros.

Se do que vi ou tive uma saudade sinto,
feita de raiva e do vazio gélido,
não é saudade, não. Mas muito apenas
o horror de não saber como se sabe agora
o mesmo que aprendi. E a solidão
de tudo ser igual doutra maneira.
E o medo de que a vida seja isto:
um hábito quebrado que se não reata,
senão noutros lugares que não conheço.

Jorge de Sena

sexta-feira, 25 de julho de 2008

"Disseram-me que não se pode quebrar o coração a alguém que já o tem partido. E eu pensei 'Pode'. Podemos sempre partir os bocadinhos do coração em bocadinhos ainda mais pequenos, amachucar ainda mais o que nos resta, como se nos tirassem o último sopro de vida."

Patrícia Reis, in "Morder-te o coração"

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Sensatez

Quem me dera não ser uma mulher sensata e ser capaz de largar tudo para ir contigo. Quem me dera acreditar que o amor que sentimos um pelo outro é suficiente, e nada mais importa. Quem me dera não pensar no amanhã e viver apenas o presente. Mas... a verdade é que sou uma mulher sensata, a verdade é que sei que o amor (mesmo um amor como o nosso, testado pelas dificuldades da vida) por si só não chega, a verdade é que é preciso pensar no futuro. E tu, que és um homem sensato, sabes que é assim. Por isso, tu irás sozinho e eu ficarei aqui, sozinha.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Um dia de cada vez


Deixa-se ficar muito tempo no chuveiro enquanto a água corre. Sob o barulho da água a correr, os seus soluços não se ouvem e as lágrimas confundem-se com as gotas de água. O seu corpo minúsculo e frágil treme, sacudido por uma dor que é maior do que ele. Se esperar o tempo suficiente, talvez a água leve consigo aquela dor que a atormenta, que a consome por dentro, que a faz sufocar. Por isso, deixa-se ficar muito tempo sob a água que corre.
Tudo é mais difícil agora, até os pequenos gestos têm um peso que não lhes conhecia. Levantar-se, arranjar-se, sair para trabalhar exigem um esforço sobre-humano. Concentra-se no objectivo de sobreviver ao dia, tão somente sobreviver. Procura na rotina das tarefas quotidianas o conforto e a segurança que lhe hão-de permitir chegar ao fim de mais um dia. E amanhã tudo se repete, um dia após o outro, na esperança de tudo voltar a ter sentido.

Entre si e o mundo parece existir uma distância intransponível, como se estivesse dentro de uma caixa hermética e transparente. Lá fora, os outros continuam com as suas vidas. Se estender a mão quase os pode tocar e, no entanto, é como se não a vissem e não a pudessem ouvir.
Os outros e as suas conversas. Sorri. Faz de conta que os ouve. O mundo lá fora não lhe interessa. A dor que a domina não deixa espaço para mais nada. Como é que eles podem não ver? Como podem ignorar o seu sofrimento? Sorri de novo. Se calhar, estamos todos fechados dentro dos nossos próprios sofrimentos. Nós e os outros, mundos que coexistem mas não se tocam. Cada qual a tentar sobreviver o melhor possível.
Quando foi que tudo mudou? Quando foi que a vida se lhe tornou tão pesada? Nem sabe dizer. Dentro dela algo se quebrou. Reza. Pede a Deus que lhe dê forças para sair do buraco negro em que se afunda. Luta desesperadamente contra os abismos que a atraem. As forças que a despedaçam são as mesmas que a mantêm viva. Se arrancasse do peito o mal que a destrói, estaria a arrancar a força que lhe permite continuar. Na vertigem do sofrimento tudo se confunde.

É porque não pode chorar mais, porque o corpo lhe pede descanso, que vai ter de encontrar uma forma de viver com o desgosto. Quando fechar a torneira e sair do banho estará pronta para enfrentar a vida de novo. De alma lavada. Será assim todos os dias até que da dor profunda que a alimenta nasça um novo sentido para a vida.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Menina não joga

O meu filho de cinco anos amanhã vai jogar futebol. É uma coisa à séria, no campo relvado do clube cá da terra e, por isso, só os rapazes jogam. As meninas fazem claque (estão a ver o estilo "cheerleader" americana?, é isso). Quando eu soube, nem queria acreditar. Ele já me tinha dito que os rapazes iam jogar e as meninas iam "fazer sexy" (palavras dele, acompanhadas de abanar do rabo e braços no ar), mas achei que era confusão dele. Afinal, a criança tinha mesmo razão.
Coincidência ou não, na minha escola (que pertence ao mesmo agrupamento da escola do meu filho) existe um projecto para promover a igualdade entre homens e mulheres. Nunca precisei de um projecto para falar de igualdade com os meus alunos e não sei se gosto desta ideia de fazer projectos para tudo, mas participei. Fizemos formação, delineámos o projecto e passámos ao trabalho. Durante boa parte do ano lectivo, os professores debateram o tema com os alunos, questionaram estereótipos, realizaram trabalhos e hoje apresentaram os resultados. Houve exposição, peça de teatro, filme, palestra com oradores convidados. Estamos satisfeitos.
Mas será que este trabalho tem efeitos na mudança de comportamentos e mentalidades dos nossos alunos? É cedo para saber isso, e talvez nunca se venha mesmo a saber. O inquérito realizado à população não mostrou nada de supreendente, somos uma sociedade conservadora, na qual homens e mulheres ainda têm papéis muito tradicionais. Mudar isto só pode ser conseguido com um trabalho continuado. Uma vez sensibilizados para a questão, professores e alunos (perdão, professores e professoras, alunos e alunas) devem olhar a realidade com uma visão mais crítica e corrigir os comportamentos que alimentam os estereótipos e as desigualdades de sexo, e que de tão naturais às vezes são invisíveis.
Tão invisíveis que não deve ter passado pela cabeça da educadora do meu filho que aquilo que os meninos e meninas vão fazer amanhã é não só muito preconceituoso, como perpetua estereótipos que a escola devia combater.
Contradições da educação para a igualdade...

terça-feira, 17 de junho de 2008

Quando entro nos teus olhos

quando entro nos teus olhos
o amor olha pr'a mim
só agora o encontrei
só agora o conheci

e se mais ao fundo for
muito mais consigo ver
quando entro nos teu olhos
logo o chão fica a tremer

beijos tantos como as estrelas
dorme bem, eu vou voltar
luas muitas e cerejas
amanhã eu vou voltar

quando entro nos teus olhos
flutuando no teu rio
vão descendo luas cheias
neste meu sonho vazio

esqueço tudo o que aprendi
não sabia que era assim
quando entro nos teus olhos
o amor olha para mim

Rádio Macau

(e não é que, ao fim destes anos todos, ainda é mesmo assim?)

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Should I stay or should I go?




Oscar Wilde disse: “Só há duas desgraças na vida: uma é desejar o que não se tem, outra é obtê-lo.”. E não é que é mesmo verdade? Tantos anos a sonharmos com uma vida diferente, tantas vezes a dizermos “se arranjasse outra coisa para fazer, ia-me embora, deixava isto tudo”. E agora que surge a oportunidade, parece que afinal não queremos. Quer dizer, queremos mas... talvez não queiramos tanto como pensávamos. Estão a ver?
Finalmente temos a vida arrumadinha, uma família, a casa dos nossos sonhos, um emprego estável (já foi melhor, mas ainda assim...) e vamos deixar tudo isso? E poderemos ficar sem nos arrependermos? Quando pensamos que podemos estar descansados vem a vida e baralha tudo outra vez. É isto que a torna tão fascinante, mas às vezes apetecia não ter tomar decisões. Nestas alturas dava mesmo jeito ter uma bola de cristal para espreitar o futuro.

sábado, 14 de junho de 2008

Viver sempre também cansa

Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?

José Gomes Ferreira, "Viver sempre também cansa"

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Procura-se alguém para partilhar uma solidão


Quando é que estamos sozinhos? Quando ninguém nos procura? Quando nos encontramos no meio da multidão e ninguém nos vê? Quando as pessoas com quem convivemos não entendem o que pensamos? Quando achamos que mais vale calarmo-nos do que falar?
Um cínico diria que estamos sempre sozinhos. Não sou assim tão cínica. Embora veja como as pessoas vivem cada vez mais sós, dominadas pelo individualismo, pressionadas pelo sucesso e pela felicidade que a sociedade lhes exige, incapazes de ver os outros e ignoradas pelos outros. Muitas vezes abandonadas.
Reconheço que a solidão é uma parte importante das nossas vidas e que nos momentos cruciais nos encontramos sós perante nós mesmos. Sei que é necessária alguma solidão para sabermos quem somos e nos tornarmos mais fortes. Acredito, no entanto, que num mundo tão grande existem uma ou duas pessoas que nos entendem e não nos deixam sós. Mesmo quando nos sentimos sós. E que vale a pena procurá-las.

domingo, 8 de junho de 2008


“Mas no fundo da tua alma escondia-se uma emoção convulsiva – o desejo de ser diferente daquilo que eras. É a maior tragédia, com que o destino pode castigar o homem. O desejo de ser outro, diferente daquilo que somos: não pode arder um desejo mais doloroso no coração humano. Porque não é possível suportar a vida de outra maneira, apenas sabendo que nos conformamos com aquilo que significamos para nós próprios e para o mundo. Temos de nos conformar com aquilo que somos e de ter consciência, quando nos conformamos, de que em troca dessa sabedoria, não recebemos elogios da vida, não nos põem no peito nenhuma condecoração por sabermos e aceitarmos que somos vaidosos ou egoístas, carecas e barrigudos – não, temos de saber que por nada disso recebemos recompensas, nem louvores. Temos de suportar; o segredo é isso. Temos de suportar o nosso carácter, o nosso temperamento, já que os seus defeitos, egoísmos e avidez, não os mudam nem a experiência, nem a compreensão. Temos de suportar que os nossos desejos não tenham plena repercussão no mundo. Temos de suportar que as pessoas que amamos, não nos amem, ou que não nos amem como gostaríamos. Temos de suportar a traição e a infidelidade, e o que é mais difícil entre todas as tarefas humanas, temos de suportar a superioridade moral ou intelectual de uma outra pessoa.”
Sándor Márai, in As velas ardem até ao fim

Mais um treinador de bancada

O meu filho tem cinco anos e está a viver o seu primeiro Europeu de Futebol. Aliás, que eu tenha notado, está a ver jogos de futebol a sério pela primeira vez. Até aqui, tudo o que fazia era perguntar se quem estava a jogar eram o Benfica e o Sporting.
Não sei em que momento é que isto mudou. De repente, a febre do futebol parece ter-se apossado dele. Só quer jogar à bola, passa o tempo a dizer que é o Cristiano Ronaldo, usa vocabulário futebolístico que não me lembro de lhe termos ensinado... Tanto quanto sei, esta febre parece ter afectado todos os colegas da turma dele e teve como consequência obrigar-nos a levar uma bola de futebol para a escola todos os dias.
Quando o vejo sentado em frente ao televisor, a vibrar com os golos, a reclamar com o jogador que não marcou, ou a descrever os lances mais entusiasmantes, parece-me já um rapaz crescido. Tenho a certeza que dentro de pouco tempo o poderemos ouvir questionar as opções do treinador e insultar o árbitro. E assim se faz um homem.

sábado, 7 de junho de 2008

Força, Portugal!



Em qualquer sítio do mundo, se dissermos que somos portugueses a reacção é logo: "Ah sim! Eusébio! Figo! Cristiano Ronaldo!" (consoante a idade do nosso interlocutor). Apesar de sermos bons noutras coisas (vejam-se as vitórias de Vanessa Fernandes no triatlo, os trabalho de investigação dos nossos cientistas ou o sucesso de algumas empresas na tecnologia de ponta, para dar só três exemplos), o futebol continua a ser o nosso cartão de visita.
Não sou grande fã de futebol e confesso que tenho dificuldade em perceber o histerismo à volta da selecção: os directos para saber o que comeram os jogadores ao pequeno-almoço, os passeios do treinador, ou as entrevistas aos adeptos que tentam obter um autógrafo. Enfim, o folclore que envolve estas coisas.
Ainda assim, logo à noite estarei em frente à televisão a ver o jogo e a torcer pelos nossos jogadores. É que quando vemos a selecção sentimo-nos um pouco mais portugueses, unidos num desígnio comum que parece faltar-nos em tantas outras situações.
"Força, Portugal!"

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Que saudades!


Tenho uma estante nova no meu escritório. Ao fim de tanto tempo a olhar para caixotes, posso enfim olhar novamente para os meus livros. Tinha saudades deles, dos livros. Na verdade, sobrevivi perfeitamente todos estes meses sem eles, mas, ainda assim, faziam-me falta. Vê-los assim todos arrumadinhos e prontos a serem lidos e manuseados dá-me um prazer que tenho dificuldade em traduzir em palavras.

Noutro dia, perguntei a um dos meus alunos o que fazia nas duas horas que tem de esperar diariamente pelo autocarro. Respondeu-me: "Nada!". E eu, feita tonta, sugeri "Podias ler um livro.". Pela expressão de absoluta incredulidade na sua cara, percebi imediatamente que tinha dito um disparate. "Ler?!! Nem em casa, quanto mais..."

Pronto, a este não vou conseguir explicar a falta que os meus livros me fizeram. É pena!