quarta-feira, 30 de julho de 2008



You'll always be my man. Promise me I'll always be your woman.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

God bless the internet!

A minha irmã escreveu no blogue dela as coisas mais bonitas que alguma vez disse sobre mim (e que provavelmente nunca me diria pessoalmente), sei quão triste está a minha melhor amiga porque leio o seu blogue, escrevo no meu blogue para as pessoas de quem gosto. Por que escrevemos estas coisas em blogues? Para quem as escrevemos? O que será que isto quer dizer sobre as relações entre as pessoas? Entre o exercício de escrita e a esperança de sermos lidos e compreendidos, o mundo dos blogues é um jogo de véus em que cada um encena a sua personagem, com maior ou menor sinceridade. "Aquilo que escrevo escreve também sobre mim" (Botho Strauss), mas será que aquilo que escrevemos aqui vale no mundo real? God bless the internet!

É saudade, sim!

Para todos os que partiram (e de quem sinto a falta):

Noutros Lugares

Não é que ser possível ser feliz acabe,
quando se aprende a sê-lo com bem pouco.
Ou que não mais saibamos repetir o gesto
que mais prazer nos dá, ou que daria
a outrem um prazer irresistível. Não.

O tempo nos afina e nos apura:
faríamos o gesto com infinda ciência.
Não é que passem as pessoas, quando
o nosso pouco é feito da passagem delas.
Nem é também que ao jovem seja dado
o que a mais velhos se recusa. Não.

É que os lugares acabam. Ou ainda antes
de serem destruídos, as pessoas somem,
e não mais voltam onde parecia
que elas ou outras voltariam sempre
por toda a eternidade. Mas não voltam,
desviadas por razões ou por razão nenhuma.

É que as maneiras, modos, circunstâncias
mudam. Desertas ficam praias que brilhavam
não de água ou sol mas solta juventude.
As ruas rasgam casas onde leitos
já frios e lavados não rangiam mais.
E portas encostadas só se abrem sobre
a treva que nenhuma sombra aquece.

O modo como tínhamos ou víamos,
em que com tempo o gesto sempre o mesmo
faríamos com ciência refinada e sábia
(o mesmo gesto que seria útil,
se o modo e a circunstância persistissem),
tornou-se sem sentido e sem lugar.

Os outros passam, tocam-se, separam-se,
exactamente como dantes. Mas
aonde e como? Aonde e como? Quando?
Em que praias, que ruas, casas, e quais leitos,
a que horas do dia ou da noite, não sei.
Apenas sei que as circunstâncias mudam
e que os lugares acabam. E que a gente
não volta ou não repete, e sem razão, o que
só por acaso era a razão dos outros.

Se do que vi ou tive uma saudade sinto,
feita de raiva e do vazio gélido,
não é saudade, não. Mas muito apenas
o horror de não saber como se sabe agora
o mesmo que aprendi. E a solidão
de tudo ser igual doutra maneira.
E o medo de que a vida seja isto:
um hábito quebrado que se não reata,
senão noutros lugares que não conheço.

Jorge de Sena

sexta-feira, 25 de julho de 2008

"Disseram-me que não se pode quebrar o coração a alguém que já o tem partido. E eu pensei 'Pode'. Podemos sempre partir os bocadinhos do coração em bocadinhos ainda mais pequenos, amachucar ainda mais o que nos resta, como se nos tirassem o último sopro de vida."

Patrícia Reis, in "Morder-te o coração"

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Sensatez

Quem me dera não ser uma mulher sensata e ser capaz de largar tudo para ir contigo. Quem me dera acreditar que o amor que sentimos um pelo outro é suficiente, e nada mais importa. Quem me dera não pensar no amanhã e viver apenas o presente. Mas... a verdade é que sou uma mulher sensata, a verdade é que sei que o amor (mesmo um amor como o nosso, testado pelas dificuldades da vida) por si só não chega, a verdade é que é preciso pensar no futuro. E tu, que és um homem sensato, sabes que é assim. Por isso, tu irás sozinho e eu ficarei aqui, sozinha.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Um dia de cada vez


Deixa-se ficar muito tempo no chuveiro enquanto a água corre. Sob o barulho da água a correr, os seus soluços não se ouvem e as lágrimas confundem-se com as gotas de água. O seu corpo minúsculo e frágil treme, sacudido por uma dor que é maior do que ele. Se esperar o tempo suficiente, talvez a água leve consigo aquela dor que a atormenta, que a consome por dentro, que a faz sufocar. Por isso, deixa-se ficar muito tempo sob a água que corre.
Tudo é mais difícil agora, até os pequenos gestos têm um peso que não lhes conhecia. Levantar-se, arranjar-se, sair para trabalhar exigem um esforço sobre-humano. Concentra-se no objectivo de sobreviver ao dia, tão somente sobreviver. Procura na rotina das tarefas quotidianas o conforto e a segurança que lhe hão-de permitir chegar ao fim de mais um dia. E amanhã tudo se repete, um dia após o outro, na esperança de tudo voltar a ter sentido.

Entre si e o mundo parece existir uma distância intransponível, como se estivesse dentro de uma caixa hermética e transparente. Lá fora, os outros continuam com as suas vidas. Se estender a mão quase os pode tocar e, no entanto, é como se não a vissem e não a pudessem ouvir.
Os outros e as suas conversas. Sorri. Faz de conta que os ouve. O mundo lá fora não lhe interessa. A dor que a domina não deixa espaço para mais nada. Como é que eles podem não ver? Como podem ignorar o seu sofrimento? Sorri de novo. Se calhar, estamos todos fechados dentro dos nossos próprios sofrimentos. Nós e os outros, mundos que coexistem mas não se tocam. Cada qual a tentar sobreviver o melhor possível.
Quando foi que tudo mudou? Quando foi que a vida se lhe tornou tão pesada? Nem sabe dizer. Dentro dela algo se quebrou. Reza. Pede a Deus que lhe dê forças para sair do buraco negro em que se afunda. Luta desesperadamente contra os abismos que a atraem. As forças que a despedaçam são as mesmas que a mantêm viva. Se arrancasse do peito o mal que a destrói, estaria a arrancar a força que lhe permite continuar. Na vertigem do sofrimento tudo se confunde.

É porque não pode chorar mais, porque o corpo lhe pede descanso, que vai ter de encontrar uma forma de viver com o desgosto. Quando fechar a torneira e sair do banho estará pronta para enfrentar a vida de novo. De alma lavada. Será assim todos os dias até que da dor profunda que a alimenta nasça um novo sentido para a vida.