quarta-feira, 27 de agosto de 2008

All we need is love



Things are always changing,
And maybe nothing is forever,
But I believe in love
In its strenght to keep two people together.


Lembras-te? Já faz quase um ano que escreveste estes versos. Também eu acredito na força do amor e toda a minha vida tem sido construída com base nessa convicção. Tu sabes. Por isso, tenho dificuldade em dizer-te que há amores certos e errados, amores pelos quais vale a pena lutar e outros dos quais devemos desistir. Só o nosso coração devia poder dizer uma coisa dessas. E, no entanto, não é isso que acontece. Na verdade, nem sempre isso é uma coisa má, é que o coração engana-se, ilude-se e atraiçoa-nos. Há amores bons que se transformam em fontes de sofrimento e amores que secam tudo em seu redor. O amor, como tudo na nossa vida, depende de toda uma série de circunstâncias e muitas vezes não é a força do amor que determina a sua sobrevivência. Só o tempo pode dizer da capacidade do amor para manter as pessoas juntas. Só o tempo pode dizer da qualidade do amor.

(imagem da capa do álbum "The Hungry Saw" dos Tindersticks)

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Ser adulta

Não gostaria de voltar a ser adolescente, mas às vezes parece-me que isto de ser adulto é demasiado difícil. Se fosse adolescente agora poderia enfiar-me em casa a ouvir músicas tristes e a chorar até voltares, e ninguém acharia isso estranho. Como sou adulta, espera-se de mim um comportamento "adulto", isto é, continuar com a vida normal, pensar no marido que estará sozinho e no filho que precisará de mais atenção, e aguentar-me. Porque é isto que os adultos fazem. Pelo menos, é isto que os adultos fazem na frente dos outros. As tristezas dos adultos são vividas em silêncio para não incomodar os outros. As minhas lágrimas embaraçam as outras pessoas, deixam-nas desconfortáveis e, por conseguinte, deixam-me desconfortável. Sou adulta e racional e comporto-me como tal. Que hei-de responder quando as pessoas me dizem "custa no início mas depois passa"? Obviamente concordo e calo-me. É que sei que o tempo ajuda a tornar mais suportável a separação, mas que interessa isso neste momento? Que interessa saber que as coisas têm de ser assim? Que interessa acreditar que tudo vai correr bem? Dói muito na mesma. E esta dor nada tem de racional. Mas isso é uma coisa para ficar entre as paredes do meu quarto, porque lá fora é preciso manter as aparências e agir com a maturidade que se espera de uma mulher adulta e sensata. Que é o que sou.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

"Gostar é a melhor forma de ter"

O primeiro instinto do amor é prender (literal e metaforicamente) aqueles de quem gostamos. Guardá-los só para nós, fechá-los naquela bolha que nos isola do mundo, prolongar indefinidamente aquele sentimento de exclusividade e felicidade que nos liga e não deixar mais ninguém aproximar-se. Se pudéssemos, era isto que faríamos. Não o fazemos porque sabemos que, se o fizéssemos, o preço seria (a mais ou menos longo prazo) o próprio amor. Os laços suaves do amor tornar-se-iam grilhetas insuportáveis e em vez da felicidade da escolha de estarmos juntos teríamos o peso da obrigação.
Aprendemos com o tempo que "gostar é a melhor forma de ter" e, por isso, aqueles de quem gostamos são "nossos" independentemente do lugar onde estiverem e das pessoas que fizerem parte das suas vidas. Aprendemos com o tempo que não há forma de "prender" as pessoas para sempre, a não ser deixá-las livres para partirem e voltarem quando quiserem. Aprendemos com o tempo que a verdadeira vocação do amor é libertar.

domingo, 17 de agosto de 2008

O que é uma família?

"Um espaço onde ficam contentes por te ver quando chegas e tristes quando partes."

Não sei quem disse isto, mas gosto desta definição de família. Acho que combina com o que sentimos nesta família.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

História de amor



Ele entrou nas nossas vidas e transformou-as para sempre. Às vezes olho para ele e penso em como terá sido a sua vida antes de nós. Mas em geral não é nisso que penso enquanto o observo a brincar. Penso como poderíamos viver sem ele. Penso no imenso orgulho que sinto por ele ser como é. Nada se compara ao seu sorriso. Um sorriso que ilumina toda uma sala e nos deixa desarmados. Um sorriso que apaga o pânico inicial de não o conseguirmos amar o suficiente. Como pudemos duvidar? Agora só podemos recear desiludi-lo. Não há como o proteger para sempre e sabemos que haverá tempos difíceis, contudo isso não parece importante neste momento. Agora o que conta são os beijos, os abraços, as cócegas. E a voz dele a perguntar: "Serás sempre a minha mãe?". Sim, serei sempre a tua mãe. E esta será sempre a tua família. E tu serás sempre amado aqui. E isso é tudo o que importa. Obrigada por nos fazeres tão felizes, filho.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Elogio do silêncio


Gosto do silêncio. Não gostava, mas, com os anos, tenho vindo a descobrir que o silêncio me faz falta. Para recarregar as baterias, para me ouvir a mim própria, para deixar "lá fora" os ruídos que enchem as nossas vidas. É fácil perdermo-nos na confusão de sons que nos rodeiam e às vezes nos impedem de pensar, de sentir, de olhar para o mundo de outra maneira.
O silêncio não é uniforme, pelo contrário, está cheio de subtis nuances. É preciso aprender a senti-lo. Há silêncios que nos oprimem e silêncios que nos libertam, há silêncios que nos isolam e silêncios que nos fazem companhia. E depois há o silêncio partilhado. O silêncio em que as palavras pura e simplesmente não fazem falta. O silêncio em que as emoções são mais eloquentes que quaisquer palavras que pudéssemos dizer. O silêncio cheio de uma cumplicidade feita de amor e compreensão. O silêncio que só pode existir entre pessoas que se conhecem, se amam e se respeitam.

domingo, 10 de agosto de 2008

Ó tempo volta para trás

"Everyone lives in his own castle," said Maude, "but that's no reason not to lower the drawbridge and go out on visits (...) Still, in another sense, you can always jump the wall and sleep out under the stars.”
“Maybe” Harold said. “But that takes courage. Aren’t you afraid?”
“Of what? The known I know; and the unknown I’d like to find out. Besides, I’ve got friends.” (Collin Higgins)

Um destes dias, andava eu a arrumar papéis e encontrei a minha pasta de final de curso. Há anos que não lhe mexia, mas encontrá-la despertou uma vaga de saudade. Sentei-me a ler as fitas escritas por pessoas que não vejo há mais de dez anos e a pensar no muito que a minha vida mudou nestes anos. Gostava de rever aquela gente, não para comparar os (in)sucessos das nossas vidas actuais, mas para recordarmos juntos os anos em que éramos jovens e o tempo tinha outro valor.
E isto traz-nos à citação acima transcrita. Foi escrita pela minha melhor amiga daqueles anos de faculdade. Ainda somos amigas, mas é diferente. Nós mudámos e, é sabido, com o casamento e as crianças, as amizades mudam também. Tenho saudades daquilo que éramos naquele tempo, dos risos e lágrimas partilhados, das aventuras e dos segredos. Olho para nós agora e sei que o tempo para descobrir o desconhecido começa a escassear. Estamos a ficar velhas, Maria.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O captain, my captain (ou como não ser uma técnica do ensino)



Este é um dos filmes da minha vida. Marcou-me quando o vi pela primeira vez e continua a emocionar-me. Quando chego à cena final, estou lavada em lágrimas. Algumas destas lágrimas são por mim, pelos meus sonhos de mudar o mundo, pela minha esperança de fazer a diferença, pela minha crença na missão dos professores. Ainda não desisti totalmente do meu idealismo, da minha vontade de ensinar os meus alunos a olhar o mundo de outra perspectiva e, no entanto, sinto que é cada dia mais difícil resistir à conformidade. Pergunto-me como vou ter tempo para conhecer os meus alunos, vê-los e ouvi-los, no meio de tanto papel para preencher e de tantas estatísticas. Não quero ser apenas uma técnica do ensino, ainda acredito na importância da paixão para dar sentido ao que fazemos, ainda não estou preparada para desistir totalmente. Por mim, por eles, não posso desistir. Como poderei falar-lhes da força dos nossos sonhos se tiver desistido dos meus?

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

À espera


Estou sentada no degrau de tua casa. À espera. Não sei há quanto tempo aqui estou. Um dia vais abrir a porta. Tu prometeste, por isso eu sei que vais. Entretanto fico aqui sentada. À espera. Lá dentro o teu mundo. Aqui fora, eu. Imaginando como será lá dentro. Fechaste a porta devagarinho. Pediste desculpa. Não faz mal. Vou continuar aqui sentada. À espera. Por vezes, abres um pouco a porta. E posso ver como é lá dentro. Só um pouquinho. Depois, tudo o que posso fazer é continuar aqui sentada. À espera. Um dia tu vais abrir a porta. E deixar-me entrar no teu mundo. Se isso nunca acontecer, terei sempre o tempo que passei sentada no degrau de tua casa. À espera.