domingo, 28 de dezembro de 2008

Hope


Que me lembre, lá em casa houve apenas um cão e um gato e ambos duraram pouco. O gato arranhou os cortinados da sala, pelo que a minha mãe decidiu que não podia ficar. O cão ainda lá esteve menos tempo, porque a minha mãe tinha medo dele, logo não podia entrar em casa e a minha mãe nunca mais foi ao quintal. De peixinhos e passarinhos e outros animais de estimação, nem sombras. Em resumo, nunca fomos uma família muito dada aos animais.
Como não tenho essa propensão natural para os animaizinhos (e já agora também para as plantas), a decisão de termos um cão foi um tanto surpreendente. Começou por ser uma daquelas conversas de "quando tiver uma casa com quintal, arranjamos um cão" e um dia já era "que nome vamos dar ao nosso cãozinho?". Seria Óscar, mas o Óscar não sobreviveu e acabámos por ficar com um cadela. A Hope. Nome estranho para uma cadela? Talvez...
Há três dias que chegou e já provocou o caos nos hábitos cá de casa. Não nos deixa dormir porque passa as noites a ganir. Enrola-se nos nossos pés quando andamos na cozinha. Obriga-nos a estar sempre a lavar o chão do quintal porque faz cocó em qualquer lado. Enfim, um transtorno completo. Mas, por outro lado, é uma cachorrinha linda e meiguinha que se deita nos nossos pés a dormir. O Alex até já perdeu o medo e gosta de correr e brincar com ela. É uma delícia vê-lo com ela a dormir no colo.
Todos me dizem que tenho de a educar agora que é pequenina, e é o que estou a tentar fazer. Confesso que não é fácil, mas se conseguimos educar as crianças também devemos ser capazes de educar um cão, ou não? Aquilo que já aprendi (e que, provavelmente devia ser óbvio) é que os cães nos conquistam como as crianças, depois habituamo-nos a tê-los por perto e fazem-nos falta. E foi assim que a nossa família cresceu mais um pouco.

Benvinda a casa, Hope.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O baterista



No fundo do palco, o baterista olha atentamente para o maestro à espera do sinal para começar. Vestido de preto, cabeça rapada e piercing, o seu aspecto adequa-se mais a uma banda de heavy metal do que a uma banda filarmónica e, no entanto, faz sentido vê-lo ali. Sentada na plateia a vê-lo tocar, penso: "O Luís está um homem.".
O Luís era um rapazinho do 7ºano quando o conheci. Um rapazinho preguiçoso, que passava as aulas a desenhar em vez de fazer os trabalhos. Um rapazinho inseguro, que afastava os outros por medo de não ser aceite. Um rapazinho a tentar lidar com o crescimento, à procura de quem era e do que gostava. Um rapazinho a precisar de atenção.
O rapazinho cresceu. Descobriu o mundo. Descobriu aquilo que gosta de fazer. Descobriu o amor. Encontrou um espaço para si. Há um mundo de potencialidades dentro dele que tem vindo a explorar. Lentamente, um pouco a medo, porque nem sempre acredita no que pode fazer.
O rapazinho é agora um homem. É esse homem que olho com orgulho. O orgulho de quem o viu crescer e acreditou nele.

Boa sorte, Luís.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Now it´s really Christmas time

Há dois dias que não saio da cozinha. A família já chegou e a casa está cheia. As crianças correm pela casa. No aparador estão os doces e bolos. O bacalhau está a cozer, o lombo está temperado, o camarão cozido e o perú espera a sua vez. Tudo a postos para logo à noite. É isto o Natal: a família reunida, uma canseira e uma alegria misturadas. Logo à noite quando nos sentarmos à mesa serei uma mulher feliz.

Feliz Natal!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

sábado, 13 de dezembro de 2008

It's Christmas time



Cá em casa o Natal começou hoje. Este ano com um pouco de atraso, é certo, mas agora veio para ficar. Montámos e decorámos a árvore de Natal. Ouvimos música de natal. E pronto, o espírito natalício invadiu-me. Não sei bem o que é isto do espírito natalício, mas todos os anos o sinto. É uma alegria que começa na compra dos presentes, passa pelas tardes enfiada na cozinha a fazer bolos e a rir com a minha irmã e só termina à mesa do dia de Natal, quando toda a gente já comeu tanto que nem pode olhar para a comida. Dos presentes já gostei mais, mas em relação ao resto sinto uma alegria e uma emoção quase infantis. A casa cheia de gente, os miúdos a correr com as prendas, a família sentada à mesa, as receitas da nossa tradição familiar, as minhas meninas a baterem à porta, os telefonemas e as mensagens até daqueles para quem temos menos tempo do que gostaríamos. Adoro tudo. E emociono-me. Como me emocionei há pouco quando entrei na sala e vi a árvore com as luzinhas acesas.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Falta um dia

Já só falta um dia para o meu filho voltar para casa. Hoje falei com ele e disse-me que tem saudades minhas. Toda a minha alma se encheu de alegria. Ele tem saudades minhas, ele está bem e divertido mas quer voltar para casa, ele sente a minha falta. Tudo coisas óbvias, bem sei, mas que querem?, nunca o tinha deixado assim. Da próxima vez, vou portar-me melhor. Porque eu sei que é importante ele estar com os avós, ser "estragado com mimo", sentir saudades minhas. Porque eu sei que ele é meu, será sempre meu, mas não é exclusivamente meu (e cada vez menos), e isso não diminui o nosso amor. Porque além da minha e da do pai, houve outras vidas que ele mudou. E todos o amamos muito. E é disso que ele precisa.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Esquizofrenia maternal

O meu filho está em casa dos avós de Lisboa desde ontem. A ideia dele ficar lá uns dias até foi minha, porque tenho muito trabalho agora e dá-me jeito estar mais livre. Além disso, isto de ser mãe "solteira" é muito cansativo, pelo que umas fériazitas sabem sempre bem, certo? Errado. Depois de ter andado a gozar antecipadamente a liberdade de não ter horários certos, de poder comer o que me apetecesse (em vez da ditadura da sopa e da comida saudável), de poder trabalhar sem ser interrompida, de não ter de sair da escola a correr para o ir buscar, isto não me está a saber tão bem como pensava. Assim que me meti no carro, depois de o deixar com os avós, comecei logo a achar que me faltava qualquer coisa ("Já estamos a chegar?", "Ainda falta muito?", "Quando é que paramos para comer?"), mas o pior mesmo foi quando entrei em casa. Sem ele, a casa parece demasiado grande e vazia. Dou por mim a pôr a música baixinha para não o acordar ou a subir as escadas devagar como se ele estivesse a dormir no quarto. Pior, a entrar no quarto e olhar as coisas dele com uma saudade de quem não o vê há pelo menos vários meses. Por seu lado, o gaiato parece estar nas sete quintas, cheio de mimos e atenção dos avós e das tias. Ontem não quis falar comigo ao telefone e hoje fê-lo de muito pouca vontade, entretido que estava com os brinquedos novos e a plateia para as suas gracinhas. E eu aqui, sozinha e estupidamente triste por ele se estar a divertir, em vez de estar lavado em lágrimas pela minha ausência. É claro que acho óptimo que ele se sinta bem em casa dos avós e não queria de facto que ele estivesse infeliz lá, mas custava-lhe ter muitas saudades minhas? Creio que os psicólogos chamam a isto que sinto "empty nest syndrome", cá a mim parece-me que é a evidência (se evidências eram precisas) de como estas criaturas pequeninas a que chamamos filhos entram na nossa vida e ocupam todo o espaço livre, e até algum que não estava livre, e depois não conseguimos viver sem elas. Mas uma mulher tem que se aguentar e, por isso, não me resta outra alternativa senão resitir à tentação de o ir buscar já amanhã e tentar aproveitar o melhor possível estes dias sem filhote.