sábado, 31 de janeiro de 2009

Leave out all the rest

"O amor não se manifesta através do desejo de fazer amor (desejo que se aplica a um número incontável de mulheres), mas através do desejo de partilhar o sono (desejo que se sente por uma única mulher)."

Milan Kundera, in "A Insustentável Leveza do Ser"

domingo, 25 de janeiro de 2009

Para vocês, meus corações de ouro

A escola. A flor. A flor. A escola...
Tudo ia muito bem quando o Godofredo entrou na minha aula. Pediu licença e foi falar com D. Cecília Paim. Só sei que ele apontou a flor no copo. Depois saiu. Ela olhou para mim com tristeza.
Quando terminou a aula, me chamou.
- Quero falar uma coisa com você, Zezé. Espere um pouco.
Ficou arrumando a bolsa que não acabava mais. Se via que não estava com vontade nenhuma de me falar e procurava a coragem entre as coisas. Afinal se decidiu.
- Godofredo me contou uma coisa muito feia de você, Zezé. É verdade?
Balancei a cabeça afirmativamente.
- Da flor? É, sim, senhora.
Como é que você faz?
- Levanto mais cedo e passo no jardim da casa do Serginho. Quando o portão está só encostado, eu entro depressa e roubo uma flor. Mas lá tem tanta que nem faz falta.
- Sim. Mas isso não é direito. Você não deve fazer mais isso. Isso não é um roubo, mas já é um “furtinho”.
- Não é não, D. Cecília. O mundo não é de Deus? Tudo o que tem no mundo não é de Deus? Então as flores são de Deus também...
Ela ficou espantada com a minha lógica.
- Só assim eu podia, professora. Lá em casa não tem jardim. Flor custa dinheiro... E eu não queria que a mesa da senhora ficasse sempre de copo vazio.
Ela engoliu em seco.
- De vez em quando a senhora não me dá dinheiro para comprar um sonho recheado, não dá?...
- Poderia lhe dar todos os dias. Mas você some...
- Eu não podia aceitar todos os dias...
- Por quê?
- Porque tem outros meninos pobres que também não trazem merenda.
Ela tirou o lenço da bolsa e passou disfarçadamente nos olhos.
- A senhora não vê a Corujinha?
- Quem é a Corujinha?
- Aquela pretinha do meu tamanho que a mãe enrola o cabelo dela em coquinhos e amarra com cordão.
- Sei. A Dorotília.
- É, sim, senhora. A Dorotília é mais pobre do que eu. E as outras meninas não gostam de brincar com ela porque é pretinha e pobre demais. Então ela fica no canto sempre. Eu divido o sonho que a senhora me dá, com ela.
Dessa vez ela ficou com o lenço parado no nariz muito tempo.
- A senhora de vez em quando, em vez de dar para mim, podia dar para ela. A mãe dela lava roupa e tem onze filhos. Todos pequenos ainda. Dindinha, minha avó, todo o sábado dá um pouco de feijão e de arroz para ajudar eles. E eu divido o meu sonho porque Mamãe ensinou que a gente deve dividir a pobreza da gente com quem é ainda mais pobre.
As lágrimas estavam descendo.
- Eu não queria fazer a senhora chorar. Eu prometo que não roubo mais flores e vou ser cada vez mais um aluno aplicado.
- Não isso, Zezé. Venha cá.
Pegou as minhas mãos entre as dela.
- Você vai prometer uma coisa, porque você tem um coração maravilhoso, Zezé.
- Eu prometo, mas não quero enganar a senhora. Eu não tenho um coração de maravilhoso. A senhora diz isso porque não me conhece em casa.
- Não tem importância. Pra mim você tem. De agora em diante não quero que você me traga mais flores. Só se você ganhar alguma. Você promete?
- Prometo, sim senhora. E o copo? Vai ficar sempre vazio?
- Nunca esse copo vai ficar vazio. Quando eu olhar para ele vou sempre enxergar a flor mais linda do mundo. E vou pensar: quem me deu essa flor foi o meu melhor aluno. Está bem?
Agora ela ria. Soltou minhas mãos e falou com doçura.
- Agora pode ir, coração de ouro...

José Mauro Vasconcelos, in "O Meu Pé de Laranja Lima"

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

You don't believe in love... but you should

Ontem irritei-me com uma reacção ao meu post "I believe in love". Não é que um dos meus amigos gozou comigo? Não abertamente, mas gozou. E isso deixou-me irritada. Depois pus-me a pensar sobre o assunto e cheguei à conclusão que a reacção dele é possivelmente muito comum: "ela acredita no amor, deve ser muito tonta, ninguém acredita assim no amor". Por que razão é que as pessoas que acreditam no amor hão-de ser tontas e ingénuas e as que não acreditam lúcidas e racionais? Só porque muita gente teve más experiências amorosas? Porque muitas vezes o amor acaba? Porque o amor é difícil? Está bem, tudo isso é verdade, mas as pessoas continuam a arriscar. Ninguém quer realmente ficar sozinho. E, para mim, só vale a pena arriscar se acreditarmos no amor a sério. Amor a sério não é tudo cor-de-rosa, vamos ser felizes para sempre. Amor a sério é aquele amor que nos faz ficar e que, apesar das dificuldades, é mais forte que o resto. Se olhamos para o nosso homem e nos emocionamos, se ainda vimos nele aquilo que nos fez apaixonar (mesmo depois de muitos anos), então é amor a sério. Lá porque não acontece sempre ou não acontece a todos, não é menos real. Aqueles que o viveram sabem. Aqueles que nunca o viveram deviam querer saber. Às vezes o amor dói? Sim, e depois? E todas as outras vezes em que nos faz felizes?

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

I believe in love

"Porque no amor há sempre mais do que esse amor. Há luz para aquecer o mundo de outra maneira." (Inês Pedrosa)



Apaixonarmo-nos é uma prova de confiança no que há de melhor no ser humano.
Apaixonarmo-nos é uma forma de esperança no futuro.
Apaixonarmo-nos é a única maneira de continuarmos vivos.
Quando nos apaixonamos o mundo tem mais cor, o sol brilha mais, a música é mais vibrante, tudo é mais intenso. A vida é mais vida.
Por isso, o segredo para manter o amor durante muito tempo é apaixonarmo-nos muitas vezes pela mesma pessoa.

Foto: Pedro Dias

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Dialogue

Do you know why the children are crying?
Do you know why the sky is so blue?
Do you know the truths that matter?
- I know that I love you.

Do you know nice people aplenty?
Have you met those friends you once knew?
Do you know the rich and the famous?
- I know that I love you.

Do you travel continents and oceans
And visit palaces just open to few?
Do you know the world's variety?
- I know that I love you.

Do you know the meaning of life?
Do you know what is and what we will do?
- I don't know the secrets beyond me,
But I know that I love you.


Não, não fui eu que escrevi o poema. Escreveram-no para mim. Todas as mulheres para quem algum dia escreveram poemas percebem o que sinto neste momento. E isto não são meras palavras.

Também te amo.

sábado, 17 de janeiro de 2009

A criança e a cadela

Onde é que eu tinha a cabeça quando resolvi arranjar uma cadela? Às vezes, claramente, não penso. Deixei-me levar por aquela ideia do "olha que giro, temos uma cadelinha" e, pronto, tramei-me. Não é que eu não acredite que isto vai melhorar, mas, por enquanto, têm sido uns dias um tanto alucinantes. A juntar à minha inexperiência com animais e ao facto da cadela ser pequena e irrequieta, temos o Alex. O Alex gosta da cadela e tem persistentemente (há que reconhecer-lhe esse mérito) tentado estabelecer uma relação com ela, mas isso não tem sido fácil. Por isso, as brincadeiras dele com a cadela acabam invariavelmente com ela a tentar morder-lhe as canelas e ele aos gritos a chamar por mim. Não consigo (e juro que já tentei, várias vezes) explicar-lhe o que corre mal e porquê. Portanto, estamos neste impasse: a criança e a cadela têm dificuldade em conviver e parecem disputar o meu tempo e espaço. Em consequência disso (e do muito que me tenho zangado - por este e por outros motivos - com a criança por estes dias), o meu filho tem ciúmes da cadela. Primeiro, eram só ciúmes do tempo e atenção que eu dedico à bichinha; agora, são também ciúmes da cadela gostar mais de mim do que dele. É ouvi-lo dizer: "Tu só te zangas comigo, não te zangas com a cadela" ou "tu combinaste (reparem no verbo "combinaste") brincar com a cadela e não vais brincar comigo" ou "tu queres que a cadela goste só de ti". E não adianta explicar-lhe que é diferente. Imagine-se se fosse um mano.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

domingo, 11 de janeiro de 2009

Está frio, muito frio...

Não me lembro de um Inverno tão frio há muitos anos. Tão frio que até nevou neste nosso Alentejo tão pouco dado a esses extremos. É preciso ligar o aquecimento todo o dia e pôr vários cobertores adicionais na cama, e mesmo assim o frio persiste e é difícil adormecer. Como é que foste não estar cá logo num ano destes? A falta que me fazes para aquecer a nossa cama... No princípio, pensei que o frio fosse psicológico, que fosse a tua ausência que tornasse a cama tão fria, mas agora, que os termómetros marcam temperaturas baixinhas, tenho de admitir que não é só isso. Se calhar, a natureza está só a ser solidária, imitando a temperatura que tens de suportar aí sozinho. Pois deixa-me que te diga que tanto frio só mesmo contigo é que se aguenta. Volta para casa, amor. Há um lugar na nossa cama à tua espera e eu preciso do teu abraço para resistir ao frio do mundo lá fora.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

16 anos




Todas as histórias têm um princípio. A nossa começou aqui: 8 de Janeiro de 1993, sexta-feira, numa sala do cinema King, a ver "A Bela e o Monstro".

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Ano Novo

Dizem que 2009 será um ano difícil e que temos que esperar por dias melhores. Posso estar enganada, mas parece-me que isso é o que fazemos todos os anos: esperar por dias melhores. Pelo menos é isso que eu faço.

Aqui estão as minhas resoluções de ano novo:
- ser mais paciente;
- ser mais organizada;
- gerir melhor o meu tempo;
- não adiar o que tenho para fazer;
- pensar menos nas coisas;
- ler mais;
- ... (podia continuar, mas talvez não valha a pena)

Não são coisas fáceis de cumprir, eu sei, mas no início do ano há que ter algum optimismo. Vamos lá ver o que consigo fazer.

Que 2009 seja um bom ano para todos!