O meu filho de cinco anos amanhã vai jogar futebol. É uma coisa à séria, no campo relvado do clube cá da terra e, por isso, só os rapazes jogam. As meninas fazem claque (estão a ver o estilo "cheerleader" americana?, é isso). Quando eu soube, nem queria acreditar. Ele já me tinha dito que os rapazes iam jogar e as meninas iam "fazer sexy" (palavras dele, acompanhadas de abanar do rabo e braços no ar), mas achei que era confusão dele. Afinal, a criança tinha mesmo razão.
Coincidência ou não, na minha escola (que pertence ao mesmo agrupamento da escola do meu filho) existe um projecto para promover a igualdade entre homens e mulheres. Nunca precisei de um projecto para falar de igualdade com os meus alunos e não sei se gosto desta ideia de fazer projectos para tudo, mas participei. Fizemos formação, delineámos o projecto e passámos ao trabalho. Durante boa parte do ano lectivo, os professores debateram o tema com os alunos, questionaram estereótipos, realizaram trabalhos e hoje apresentaram os resultados. Houve exposição, peça de teatro, filme, palestra com oradores convidados. Estamos satisfeitos.
Mas será que este trabalho tem efeitos na mudança de comportamentos e mentalidades dos nossos alunos? É cedo para saber isso, e talvez nunca se venha mesmo a saber. O inquérito realizado à população não mostrou nada de supreendente, somos uma sociedade conservadora, na qual homens e mulheres ainda têm papéis muito tradicionais. Mudar isto só pode ser conseguido com um trabalho continuado. Uma vez sensibilizados para a questão, professores e alunos (perdão, professores e professoras, alunos e alunas) devem olhar a realidade com uma visão mais crítica e corrigir os comportamentos que alimentam os estereótipos e as desigualdades de sexo, e que de tão naturais às vezes são invisíveis.
Tão invisíveis que não deve ter passado pela cabeça da educadora do meu filho que aquilo que os meninos e meninas vão fazer amanhã é não só muito preconceituoso, como perpetua estereótipos que a escola devia combater.
Contradições da educação para a igualdade...
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