quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A eloquência do silêncio

Toda a gente parece ter uma opinião sobre o que eu devia fazer. Toda a gente menos o meu pai. A minha mãe fala frequentemente sobre o assunto, pergunta se já tomámos uma decisão, faz até alguma chantagem psicológica. Ao meu pai ainda não ouvi uma palavra. A minha mãe pressiona, choraminga, diz claramente que não quer que nos vamos embora. O meu pai aparenta desinteresse e abandona a sala. E, no entanto, sei bem que esta questão não lhe é indiferente. Sei que age assim porque não quer interferir na minha decisão, e acha que eu sei que estará do meu lado qualquer que seja a decisão que venha a tomar (como, aliás, sempre fez). Ontem, quando o vi brincando com o neto no computador, tive a certeza que será ele a sofrer mais se partirmos. Por minha causa, mas sobretudo pelo meu filho, o neto que ele recebeu de coração aberto e para quem tem uma enorme paciência e tolerância. Ver aquela cumplicidade entre eles exerceu sobre mim mais pressão do que todas as palavras que o meu pai pudesse ter dito para me fazer ficar. E o meu pai nunca diria essas palavras. O seu silêncio é simultaneamente uma forma de respeito pela minha decisão e uma evidência de fragilidade face ao que eu possa decidir.

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