domingo, 30 de novembro de 2008
Reencontro
Entrou no café e procurou ansiosamente um rosto familiar. No fundo da sala, na mesa do canto uma jovem mulher lia um livro. Mesmo sem lhe ver o rosto, soube que era ela. A sua menina transformada numa mulher. Hesitou um momento e aproveitou o facto de estar distraída para a observar. Conservava o porte distinto e sereno, o ar contido e determinado. E ali, numa cena de filme, todo o ruído do café desapareceu e o tempo pareceu parar, no instante em que ela levantou os olhos do livro e os seus olhares se cruzaram. Avançou lentamente em direcção à mesa, cumprimentaram-se, o empregado aproximou-se, pediram chá, e ficaram em silêncio. Um silêncio cheio de emoções e palavras que se atropelavam sem sair. Foi assim, em silêncio, que souberam que, apesar de tudo, elas ainda eram as mesmas e reataram uma longa conversa, interrompida durante anos, com a naturalidade de quem se vira na véspera. Sem perguntas nem explicações, apenas com o entusiasmo de quem gosta uma da outra. Quando finalmente olharam em redor, já não restava mais ninguém no café além dos empregados desejosos de se irem embora. Como sempre, o tempo fora demasiado curto. Riram-se do seu próprio alheamento e saíram para o frio cortante de Dezembro. Cá fora, despediram-se relutantemente, mas sem promessas, e cada uma tomou o seu caminho, certa de que, por muito diferentes que fossem os seus caminhos, sempre se haveriam de cruzar. Porque é isso que acontece aos amigos.
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